
Todos sabem o quanto evito escrever sobre minha banda aqui no Macaco. Mas hoje foi impossível deixar passar, pois muitas vezes a história da Sonnora se confunde com a minha própria história. Sendo assim:
23:49h de sexta feira dia 22 de abril de 2011.
Uma grande decisão para tomar. Às vezes acho que não há muito a se fazer, após tudo que já foi feito. Milhares de desentendimentos, brigas, palavras duras lançadas...
Sempre tentei olhar pra trás e ver tudo que um dia eu fiz. Como lembranças de um dia bom. Agora me lembro do dia 28 de junho de 2008,
Voltava muito ansioso de Aracaju. Tinha ido passar o São João com minha namorada e decidi voltar mais cedo. Há aproximadamente um mês um amigo, Cleo Evert, com o qual havia tocado junto, nos tempos de escola, havia me ligado e convidado para um teste numa banda nova. Pensei, com bastante cautela e, por fim, com o apoio da minha namorada, decidi tentar.
Lembro-me do gosto daquela tarde. Eu estava nervoso e com soluço! (assim como estou agora). Não tinha a menor noção de como iria cantar assim. Meu teste foi um fiasco. Desisti daquela idéia, e segui com o velho plano. Muitos livros, artigos, vida acadêmica e nos fins de semana sempre tinha refúgio naquela que sempre foi e sempre será a garota que mais me entende no universo. Mirella.
Novo fim de semana. Meu celular toca, estava sendo convocado para mais um teste. A pessoa designada para aquele sábado havia faltado. Então, lá estava eu novamente. Enfim, depois de muitas discussões eu entraria na banda. Seria vocalista de uma banda de pop rock chamada... chamada... “Afinal, que nome vamos dar à banda?” Não sabíamos. Tudo que a gente sabia naquele momento era que era uma banda formada por Túlio Santana - no contra-baixo, Cléo Evert - bateria, Matheus Freire - guitarra solo, Vinicius Andrade (Wyllow) - guitarra base e eu, Henrique Kruschewsky - vocal. Cinco caras que não demorariam muito para se tornarem melhores amigos.
Lembro-me bem daquela época. Contávamos os dias para o sábado, dia de ensaio. Ensaio era sagrado e - ai de quem se colocasse no caminho dele. Podia ser a mãe de quem fosse, namorada de quem fosse. Se o ensaio fosse cancelado, juntos, éramos capazes de desencadear a Terceira Guerra Mundial. E foi assim que, num cansativo dia de sábado, decidimos, por acaso do destino, escolher definitivamente o nome da banda. Entre tantos outros: O Núcleo, Radar, etc, etc, etc... Túlio abriu um livro e lá estava “onda sonora”. Olhamos um para a cara do outro como se tivéssemos descoberto a cura do Câncer. Gritamos em uníssono: SONORA. Logo virou Sonnora! depois SONNORA. Três meses depois estaríamos nas paradas. 1º disco gravado. Feliz Cidade, Dr. Frankenstein, Carpe Diem, Outono, Porque Tem Que Ser Assim e Tudo Vai Passar.
Lembro-me da primeira vez que ouvi o disco. Estava em Minas Gerais. Era a coisa mais perfeita do mundo. Eu estava orgulhoso. Tínhamos trabalhado duro naquilo. Logo “Tudo vai passar” tocaria na rádio e a gente começaria a fazer shows por ai.
Olhando para o passado, não é difícil perceber que, por mais imaturos que fôssemos, ou, por mais diferente que cada um de nós fosse do outro, éramos amigos, tocávamos juntos, nos divertíamos juntos, curtíamos juntos. Era um tempo bom.
Não havia muita coisa que pudesse abalar o grupo. Nem o sobrenatural.
Lembro da viagem para Salvador. Hoje tiramos boas risadas disso, mas na época foi bem, digamos...diferente.
Havíamos visto um homem morto dentro de um carro. Ao que parece, ele morreu tão de repente que nem deu tempo de tirar as mãos do volante. O fato é que, impressionados ou não com o fato, passamos a ouvir vozes por todo o apartamento, passos no corredor e todo o tipo de bizarrice possível. Nesta noite rezamos juntos, dormimos todos juntos e decidimos juntos como iríamos voltar para a nossa cidade no dia seguinte.
Éramos uma banda enquanto éramos “nós”. E não foi a saída de Túlio que fez com que deixássemos de ser uma banda. Foi muito antes disso. Foi quando a gente achou que, o que quer que a gente dissesse um ao outro, não seria pessoal, foi quando a gente achou que a música se faz mais com instrumentos bons e muita técnica, do que com sentimento e desejo, foi quando a gente passou a achar que éramos melhores que nossos próprios companheiros, na verdade esta ultima afirmativa é um engano, o certo é que foi quando passamos a nos achar melhores, quando ensaiar passou a ser um sacrifício. Deixamos de ser banda, quando deixamos de nos respeitar e assim deixamos de respeitar um ao outro, quando passamos a achar que éramos todos SUBSTITUÍVEIS.
De tanto ouvir de milhares de pessoas que me pareço com Renato Russo, coisa que, em verdade, acho um absurdo, vou me aproveitar disso só um pouquinho e usar um trecho de uma música dele:
“Às vezes parecia que de tanto acreditar em tudo que achávamos tão certo teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais, faríamos floresta do deserto e diamantes de pedaços de vidro.
Mas percebo agora que o teu sorriso vem diferente, quase parecendo te ferir. Não queria te ver assim quero a tua força como era antes. O que tens é só teu de nada vale fugir e não sentir mais nada.
Às vezes parecia que era só improvisar e mundo então seria um livro aberto. Até chegar o dia em que tentamos der demais vendendo fácil o que não tinha preço. Eu sei é tudo sem sentido...”
Acho que esse pequeno trecho traduz tudo que gostaria de dizer a todos esses caras. Túlio, Cleo, Matheus, Helissom, Wyllow. Sei, também, que já demorei demais com isso, mas é que, se acabar este texto já é difícil, imagine acabar com a Sonnora?
O fato é o seguinte: hoje a Sonnora recebeu um golpe muito duro, e pode ser que ela não se re-erga de agora em diante. Mas até o momento, até o horário desta postagem “O PULSO AINDA PULSA.”