"O
amor objetal completo do tipo de ligação é, propriamente falando,
característico do indivíduo do sexo masculino. Ele exibe a acentuada
supervalorização sexual que se origina, sem dúvida, do narcisismo original da
criança, correspondendo assim a uma transferência desse narcisismo para o objeto
sexual. Essa supervalorização sexual é a origem do estado peculiar de uma
pessoa apaixonada, um estado que sugere uma compulsão neurótica, cuja origem
pode, portanto, ser encontrada num empobrecimento do ego em relação à libido em
favor do objeto amoroso. Já com o tipo feminino mais freqüentemente encontrado,
provavelmente o mais puro e o mais verdadeiro, o mesmo não ocorre. Com o começo
da puberdade, o amadurecimento dos órgãos sexuais femininos, até então em
estado de latência, parece ocasionar a intensificação do narcisismo original, e
isso é desfavorável para o desenvolvimento de uma verdadeira escolha objetal
com a concomitante supervalorização sexual. As mulheres, especialmente se forem
belas ao crescerem, desenvolvem certo autocontentamento que as compensa pelas
restrições sociais que lhes são impostas em sua escolha objetal. Rigorosamente
falando, tais mulheres amam apenas a si mesmas, com uma intensidade comparável
à do amor do homem por elas. Sua necessidade não se acha na direção de amar, mas
de serem amadas; e o homem que preencher essa condição cairá em suas boas
graças. A importância desse tipo de mulher para a vida erótica da humanidade
deve ser levada em grande consideração. Tais mulheres exercem o maior fascínio
sobre os homens, não apenas por motivos estéticos, visto que em geral são as
mais belas, mas também por uma combinação de interessantes fatores
psicológicos, pois parece muito evidente que o narcisismo de outra pessoa
exerce grande atração sobre aqueles que renunciaram a uma parte de seu próprio
narcisismo e estão em busca do amor objetal."
Feud em: Sobre o Narcisismo: Uma Introdução. (Obra XIV)
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