terça-feira, 14 de junho de 2011

Narciso e Narciso (Ferreira Gullar)

Ainda sobre o tema anterior:

Me deu um pouco de trabalho achar um texto que vi numa palestra, mas enfim encontrei. Espero que apreciem! Este texto é especialmente para Debora, Carol Almeida, Any Caroline, Anne Freire e a dupla Priscila e Gleika (Gossip Girl) que gostam de poesia e muito me honram ao acompanhar meu blog.


Narciso e Narciso

Se Narciso se encontra com Narciso
e um deles finge
que ao outro admira
(para sentir-se admirado),
o outro
pela mesma razão finge também
e ambos acreditam na mentira.

Para Narciso
o olhar do outro, a voz
do outro, o corpo
é sempre o espelho
em que ele a própria imagem mira.
E se o outro é
como ele
outro Narciso,
é espelho contra espelho:
o olhar que mira
reflete o que o admira
num jogo multiplicado em que a mentira
de Narciso a Narciso
inventa o paraíso.
E se amam mentindo
no fingimento que é necessidade
e assim
mais verdadeiro que a verdade.

Mas exige, o amor fingido,
ser sincero
o amor que como ele
é fingimento.
E fingem mais
os dois
com o mesmo esmero
com mais e mais cuidado
- e a mentira se torna desespero.
Assim amam-se agora
se odiando.

O espelho
embaciado,
já Narciso em Narciso não se mira:
se torturam
se ferem
não se largam
que o inferno de Narciso
é ver que o admiravam de mentira.

*do livro Barulhos

4 comentários:

  1. Como resposta ao poema deixo parte de um poema do Manuel Bandeira, cujo o título é IMAGEM.

    "A vida é amarga. O amor, um pobre gozo...
    Hás de amar e sofrer incompreendido,
    Triste lírio franzino, inquieto, ansioso,
    Frágil e dolorido..."

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Fico muito agradecida e lisonjeada,Cacau.rs
    O poema é lindo e verdadeiro,mostra o Narciso que temos dentro de nós em relação com outros Narcisos.rs
    Bjão e Boas Férias!!!;D

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